MARATONA DA ANTOLOGIA
"O MELHOR DO CRIME NACIONAL"
de 02/08 a 09/08/2019
Olá turminha boa de leitura, vamos iniciar uma semana com a divulgação de um novo trabalho e gostaríamos que você, leitor, embarcasse conosco!
Se você curti uma ótima trama policial, esse é o momento. A Luva Editora está trazendo seu primeiro financiamento coletivo e você poderá contribuir e muito com esse livro.
Cada dia o interesse por histórias de crime, investigação policial, mistérios e serrial killers, aumenta entre os brasileiros, e podemos imaginar os motivos para nosso recente apego por esse gênero, afinal, a arte é respiro e também espelho de nosso tempo e do que mais vemos em nosso cotidiano. Mas não são apenas as séries e filmes que caíram na nossa graça, a literatura segue cada vez mais venturosa, somando apaixonados por um belo cenário Noir.
Então, não é à toa que a proposta da antologia O Melhor do Crime Nacional, organizada por Tito Prates e o Vitto Graziano (editor da Luva) recebeu mais de 100 contos, tornando árdua e muito prazerosa a tarefa de escolher 15 histórias para formar o time junto ao organizador Tito e aos convidados Wellington Budim e Paula Bajer.
Agora, o projeto encontra-se no Catarse, para que além de um livro incrível, os leitores também recebam mimos que vão de um caderno com couro sintético (com porta esferográfica e 80 folhas pautadas no formato A6), bolachas de chopp bem sanguinárias e até um postal fofo e brincalhão, com inspiração na máfia italiana.
No projeto gráfico, além de uma ficha de escritores digna de uma investigação policial, o livro contará com desenhos para cada conto ao estilo "sin city", onde a ilustradora e autora Carolina Mancini foi buscar inspiração.
E para dar início a nossa maratona, temos o primeiro relato sobre um crime cometido, digo, escrito, onde o escritor Humberto Faria Lima, nos coloca por dentro do processo de escrita de seu conto Ópera - Uma Pétala de Orquídea.
“Quando falamos de contos, a primeira coisa a surgir é uma ideia e ideias são coisas poderosas. Você sabe que uma ideia é boa quando algo dentro do seu íntimo vibra e você se pega pensando incessantemente nessa ideia. Logo surgem de maneira desconexa (pelo menos no meu caso),
detalhes da história que vão se encaixando até fazer sentido.
Para mim, esses detalhes surgem como cenas de um filme. Literalmente eu vejo tudo que escrevo por mais horrível que seja. Mas vai além disso. Não é só a narração crua de algo observado. Existe todo um trabalho de pesquisa para dar profundidade ao personagem, local e tempo histórico onde ele está inserido. Meu conto se passa na São Paulo da década de 30, no contexto da República do Café com Leite, então li os principais fatos que aconteceram no período para compor a história. Tipos de roupas, veículos, bebidas, cigarros, a maneira como a mulher era tratada, tudo isso entra para enriquecer o conto. Outra coisa que gosto muito em meus contos é de causar um clímax, onde pretendo surpreender as pessoas pelo inusitado ou horrível. Escrever é dançar com as palavras e usar o termo certo no lugar certo de maneira a hipnotizar o leitor, é um jogo de equilíbrio delicado, um xadrez onde você sabe suas peças, mas não conhece as do outro lado.
Escrever é libertador e todo autor quer ser lido.
“Temos a arte para não morrer da verdade.”
Friedrich Nietzsche
Trecho do Conto – Ópera, uma Pétala de Orquídea
- Eu não acho adequado uma
mulher fazer o tipo de trabalho
que deve ser de um homem.
O coronel tirou um maço de
cigarros feitos a mão e puxou
um, acendendo-o com uma
pederneira de prata. Olhou a
matrona bem no fundo dos olhos
antes de responder.
- Dona Maria Augustina de
Cavalcanti, Magdalena é um
detetive de capacidades
impressionantes. Ela tem um tipo de memória que poucos possuem, grava cada detalhe do que foi visto, chegando a conclusões impressionantes!
Dito isso, ele chamou a moça de cabelo loiro bem cuidado.
- Por favor detetive! Faça uma análise do casal Cavalcanti!
A jovem olhou para os dois por alguns segundos e se voltou para o chefe com um olhar carregado de desespero.
- Posso transmitir minhas impressões apenas ao senhor, coronel Alvares?
Ele foi categórico.
- Não! Fale para que todos ouçam.
Conheça o autor
facebook.com/humberto.fariadelima
Processo de escrita do segundo relato escrito por Julia do Passo Ramalho, Para Sua Segurança Mantenha-se Atrás da Faixa Amarela.
“Todos temos por onde sermos desprezíveis. Cada um de nós traz consigo um crime feito ou o crime que a alma lhe pede para fazer.”
Fernando Pessoa
“A premissa do conto Para Sua Segurança Mantenha-se Atrás da Faixa Amarela, já rondava há algum tempo meu imaginário. Alguns anos atrás, li o que se tornou minha serie literária favorita: A torre Negra. Nos livros, uma das personagens havia sido empurrada na frente de um trem de metrô, tendo perdido as pernas por conta do acidente. Como não dirijo, faço bastante uso do transporte público. E desde minha infância sempre fui apaixonada pelo metrô. Me encanta caminhar em túneis por baixo da cidade. Mantenho a crença que no metrô estamos em outra dimensão temporal. Por vezes ao aguardar o embarque, ouvia a famosa chamada: Para sua segurança mantenha-se atrás da faixa amarela. E imediatamente notava meus pés, costumeiramente a frente do limite indicado.
Assim incluir o metrô em uma das minhas histórias me pareceu natural. Como também sou psicóloga, a sociopatia, traço constituinte dos assassinos em série, naturalmente é um assunto que despertava meu interesse.
Ao ver o edital do Melhor do Crime Nacional, ambas as temáticas se juntaram em minha mente. Escrevi o conto em uma sentada. Sem dúvida esse trabalho, foi um dos mais prazerosos que pude escrever. Espero que gostem de ler o tanto que eu gostei de escrevê-lo.”
Ah. E não paramos por aí. Que tal ficar com ainda mais água na boca e experimentar um pouquinho do conto da Júlia?
“Eu descobri a morte aos dez anos.
Foi um porquinho da índia
chamado Tito. Eu o havia ganhado
de aniversário, não foi o presente
pedido por mim. Eu queria um kit
de jovem cientista, com tubos de
ensaio, microscópio e até uma
pequena variedade de produtos
químicos. Ao invés disso, ganhei
aquela coisinha irritante e fedida.
O pior eram meus pais brigando
comigo e me obrigando a limpar
e cuidar do bicho asqueroso. Eu não gostava de animais. Eu não gostava das outras crianças, eu nem mesmo gostava dos meus pais. Eu os aturava com um falso carinho e respeito, pois eles me eram necessários e mesmo muito nova tinha consciência disso.
Voltando ao Tito, eu não só desgostava daquele animal. Eu o odiava. Ele me lembrava do presente tão desejado e não ganho, ainda por cima era o motivo de broncas e obrigações aborrecidas. Por isso o matei. Eu reportei aos meus pais do sumiço de Tito, disse isso com lágrimas e soluços milimétricamente ensaiados. Fui até consolada na ocasião de sua falsa fuga. Enquanto minha mãe me abraçava, eu sonhava em contar a verdade. Eu havia afogado o desgraçado na privada.”
Conheça a autora: @juliadopassoramalho
Mulheres e sua crueldade, são tanto protagonistas como autoras de (histórias sobre) crimes hediondos, então, não é à toa que o sangue escorre pelas palavras das autoras selecionadas para esse antologia, e não seria diferente com a escritora Debora Gimenes, que divide conosco um pouco sobre seu processo criativo do conto “O Retalhador”.
“Bang bang, eu atirei em você
Bang bang, você caí no chão
Bang bang, aquele som horrível
Bang bang, eu costumava te decepcionar”
Bang Bang (My Baby Shot Me Down) - Nancy Sinatra
Processo de escrita:
Quando eu vi o edital da luva sobre O Melhor do Crime Nacional eu pensei: — Eu preciso entrar para essa antologia, ela foi feita para mim. — Daí até eu ter a ideia para o meu conto foram alguns dias. Eu gosto muito de assuntos ligados a psicopatas, amo finais drásticos, plot twists,
e principalmente criar cidades fictícias, quase todos os meus contos e textos se passam em lugares que não existem, me sinto mais livre para descrever um lugar que está apenas na minha mente, então peguei todos esses elementos, mais alguns do meu dia a dia, coloquei minha playlist composta de Imagine Dragons, U2, David Bowie, Épica, Queen e muitos outros, e criei o conto.
Li, reli, estiquei um cadinho aqui, cortei um pouquinho ali, mandei para a revisão (eu sempre mando meus textos para outra pessoa revisar, no caso do Retalhador foi a lindinha da Sílvia Andreotti) e depois para a submissão da Luva.
Eu tinha esperanças de ser selecionada, pois realmente amei a história, mas não acreditava muito, pois sabia que estaria concorrendo com uma galera forte, mais de 100 contos e apenas 15 foram selecionados.
Foi uma agradável surpresa ouvir meu nome na live que o Tito fez. Fiquei muito feliz e soltei fogos imaginários, quase perdi a hora na manicure de tanta felicidade que estava. (Risadas bobas).
Uma curiosidade sobre meus personagens: todos os principais, sendo eles mocinhos ou bandidos têm um opala na garagem. Isso se deve ao fato de que meu marido é opaleiro e há mais de vinte anos temos um diplomata preto 1988 (nosso morcegão); ou eles têm um Fiat 147 verde, outro carro que fez parte da nossa vida, por nove anos apenas. (cara de saudade do sherekinho).
Foi assim que o Retalhador foi criado, espero que os leitores de O Melhor do Crime Nacional gostem do meu conto tanto ou mais do que eu. Afinal cada texto é um filho para o autor que o escreveu.
Para dar água na boca, vamos com um pequeno trecho do conto "O Retalhador"
“São sete horas da manhã, e o sol
brilha em mais um lindo dia de
outono. Bom dia meus ouvintes
sou Rodrigo Vanilla e esse é o
seu Bom dia Guarassuara.” Maxell
herdara o opala preto do pai há
dez anos. Mandara reformá-lo,
instalou um kit de som de primeira
linha e vez ou outra deixava o
Tucson na garagem a fim de ir
trabalhar com o dinossauro,
apelido carinhoso que a esposa
Danielle havia dado ao carro. Guarassuara era um município vizinho a São Paulo, ficava no extremo leste da metrópole e estava entre as cidades mais perigosas do Estado. Todos os dias, exceto aos fins de semanas e feriados, o jovem operário saía de seu bairro cedo e dirigia até a cidade de Guarulhos, o trajeto normalmente levava menos de uma hora, mas aquele dia o trânsito estava particularmente terrível.
— Temos notícias do crime cometido essa madrugada Cristiane Passarinho? – Aquela notícia estava sendo repetida desde o raiar do dia.
— Bom dia, Rodrigo. Bom dia, Guarassuarenses. Foi um crime terrível meus amigos, um jovem de vinte anos foi brutalmente atacado e morto no ponto de ônibus próximo à Universidade Estadual de Guarassuara. Segundo a polícia, a vítima foi retalhada por uma navalha, estilete ou bisturi, antes de ter a garganta cortada.”
Conheça a autora:
@deboracsgimenes
https://www.facebook.com/debbylenon1973
Crimes, corrupção e mortes suspeitas, existem em nossa pátria amada desde sempre, então, agora é a hora de apresentar o processo de escrita de Jean Pierre Chauvin, autor do conto O Assassinato de Cláudio Manuel da Costa, que trás um pouco mais da história do Brasil para o projeto O Melhor do Crime Nacional.
“Vinde olhos belos, vinde, e enfim trazendo
Do rosto do meu bem as prendas belas,
Dai alívio ao mal que estou gemendo.
Mas ah! delírio meu que me atropelas!
Os olhos que eu cuidei que estava vendo,
Eram (quem crera tal!) duas estrela”
Cláudio Manuel da Costa
O conto “O assassinato de Cláudio Manuel da Costa” foi escrito no prazo aproximado de treze horas – quase sem interrupção – precisamente no dia em que vencia o prazo para a inscrição no edital, anunciado pela Luva Editora, para integrar esta coletânea. Talvez por pesquisar e lecionar sobre a poesia árcade, há tempos alimentava a ideia de recontar os lances finais do advogado e poeta luso-brasileiro Cláudio Manuel da Costa, autor do poema épico Vila Rica, que foi encontrado morto em sua cela, na antiga Vila Rica, capitania das Minas Gerais, em 4 de julho de 1789 – dias após ser detido por ordem do governador, o Visconde de Barbacena, acusado de conspirar contra os desígnios da Majestade, D. Maria I. No conto, houve algumas adaptações, com vistas a tornar a leitura mais fluida: as ruas receberam nomes simples e fictícios, mas correspondentes ao mapa da vila. O local da morte do poeta também foi alterado (de acordo com seus biógrafos, Cláudio teria morrido na antiga Casa dos Contos, e não na Cadeia, vizinha à Casa de Câmara). Ao priorizar diálogos entre as personagens, buscou-se conferir maior agilidade à narrativa. O título pressupõe que esse lamentável episódio receba o nome que diversos historiadores lhes deram (assassinato e não suicídio) – respaldados em documentos encontrados em meados do século XX.
E deixamos vocês com um trecho do conto:
Cláudio subiu a ladeira do Sabão às 9 horas e 12 minutos. Era um dia ensolarado e sem nuvens na capital das Minas Gerais. O poeta trocou dois dedos de prosa com o quitandeiro Luís, mas parecia ter pressa. Ao avistar a praça da Câmara, descansou um instante e sacou da algibeira um cantil com água ainda fresca, apesar do calor. Quando retomava a caminhada em direção à Travessia do Ouro, foi interrogado por dois soldados da guarda real.
- Quem vem lá?
- Cláudio Manuel da Costa, Desembargador de...
- Sabemos quem és.
- Pois então...
- Queira nos acompanhar.
Conhecedor das leis que vigoravam no reino, o poeta não continuou o debate. Temeroso, seguiu escoltado pelos soldados até a cadeia, que ficava ao lado da Câmara.
(...)
Conheça o autor:
https://web.facebook.com/Jean-Pierre-Chauvin-225040061274237/
Gostou? Então, aguardamos vocês para apoiar esse projeto, que tem só mais 10 dias no catarse. Aproveite e garanta as incríveis recompensas:
https://www.catarse.me/crimenacional
Editora
@luvaeditora
Capista e escritora
@artesdecarolinamancini
É isso, beijos e tchau!